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2. A Dama das Rosas

“Se você quer uma rosa vermelha, terá de fazê-la de música, ao luar, e tingi-la com o sangue do seu próprio coração.”
(O Rouxinol e a Rosa, Oscar Wilde)

- Obrigada pela carona! – Agradeceu Ana Rosa.
O motoqueiro fez um gesto cordial e buzinou antes de arrancar, fazendo barulho na rua quase escura.
Ana Rosa pegou a chave no bolso do avental e destrancou o cadeado do portão de ferro.
Olhou para o seu impecável jardim, com satisfação.
Amava as suas rosas na hora do entardecer mais do que nunca, quando o perfume delas subia e impregnava tudo, e todas as cores se despediam dela antes de se perderem no manto negro da noite.
Ela se dedicava ao jardim. Era preciso que as flores a amassem de volta. Era preciso que todas elas fossem regadas com seu próprio suor, seu sangue, suas lágrimas.
Era assim que se fazia um vínculo verdadeiro.
Escutou passos atrás de si, e se reprendeu no mesmo instante por sua distração.
Nunca esqueça o portão da Pensão Arabella aberto...

***

Lucas já estava parado em frente à Pensão há vinte minutos, do outro lado da rua, escondido pela sombra de uma árvore, quando viu a senhora saltar da moto.
Reconheceu Ana Rosa, mesmo nunca a tendo visto.
Ela podia ter de 25 a 50 anos, não dava pra saber.
Era exatamente como seu avô a descrevera.
O cabelo alaranjado queimado de sol era crespo e volumoso, e mesmo com os óculos de armação reta ela não parecia ser uma mulher muito séria.
Mas Lucas sabia que ela podia ser perigosa.
Com Ana Rosa Arabella não se brinca.
Viu a mulher entrar e ficar admirando as flores dos canteiros.
As rosas eram importantes.
Faziam com que a Pensão fosse o que era.
Devagar, Lucas atravessou a rua e entrou – afinal, o portão estava aberto.
Ana Rosa se voltou, alerta.
Os dois se encararam.
Bastou um único instante para que ela percebesse.
Admiravelmente ágil, Ana Rosa sacou um canivete do bolso e o girou nos dedos, em uma discreta exibição da própria capacidade de causar ferimentos graves.
- Vai embora – Diz ela, pausadamente, mas autoritária. – Não tem nada pra você aqui. Saia.
Lucas não deu um único passo para trás, nem para frente. Apenas soltou a mala no chão e ergueu os braços, como um ladrão rendido pela polícia.
- Foi Samuel Matarazzo quem me enviou aqui. – Disse ele, olhando-a nos olhos. – Disse que a senhora poderia me ajudar.
Ana Rosa esqueceu um pouco do canivete, parecendo chocada.
- Ah, não! Você é...?
- Lucas Matarazzo. Neto dele. – Responde o garoto, abaixando as mãos.
Ana Rosa sentiu parte do seu próprio mundo desabar, mas se conteve. Não se dava bem com fortes emoções, muito menos gostava de demonstrá-las, mesmo que o momento fosse de extrema frustração.
Para piorar, ela sentiu a aproximação de Lena e Violeta. As meninas estavam chegando.
- Venha comigo. – Disse. – Depressa.
Se encaminhou para o fundo do jardim, contornando a antiga e enorme Mansão Arabella – hoje um casarão precisando de manutenção conhecido como Pensão Arabella, onde Ana Rosa vez ou outra alugava um quarto para hóspedes especiais.
Hesitante, Lucas a seguiu.
Ana Rosa tirou o molho de chaves do bolso e abriu a porta do velho quartinho nos fundos da casa com certo esforço. A fechadura estava enferrujada.
Quando a porta se abriu, Lucas tossiu com a poeira.
O cômodo era pequeno. Havia um armário, uma cama estreita, uma pia e um antiquíssimo fogão a lenha.
Fala-sério-será-que-estou-em-um-museu?
- Ah, não. Não se atreva a reclamar, rapaz. – Diz Ana Rosa, observando a expressão dele.
- Eu não ia reclamar. – Murmura Lucas, colocando a mala sobre a cama.
Notou que haviam duas portas no quartinho além daquela por onde ele havia entrado.
- Ali é o banheiro. – Disse Ana Rosa. – E ali... Bem, acho que você já sabe. Seu avô deve ter dito.
Ela foi até a pesada porta de metal e abriu o pesado ferrolho. Lucas espiou e viu um corredor escuro e úmido. Sentiu arrepios.
- Vou ser franca com você, guri – começou Ana Rosa. – Não vou prometer te ajudar. Por mais apreço que eu tenha pelo Samuel e lamente pela sua situação, tenho duas moças sob a minha proteção. E não posso colocá-las em uma situação de risco para ajudar você.
Lucas engoliu em seco.
Situação de risco.
Não que ele não soubesse, mas doía ouvir aquilo.
Como um murro bem no meio da cara.
- Bom, vou pensar e te dou minha resposta amanhã. – Disse Ana Rosa, começando a sentir pena, embora sua expressão permanecesse indiferente. – Daqui a pouco irei trazer lençóis limpos, comida e uma televisão. Assim você vai ficar um pouco mais confortável.
- Obrigado. – Foi tudo o que Lucas conseguiu dizer.
Ana Rosa saiu sem responder.

***

- Ele é tão bonito. – Dizia Violeta, muito séria. – Mas tão sozinho.
Lena concordou.
- E completamente hipnotizado por você. Me diga, Violeta, você colocou o nome do Fernando na boca do sapo?
Violeta ri.
- Lena, por favor, pare de me dar ideias.
As duas pararam diante do portão da Pensão Arabella.
- Eu tenho certeza de que tranquei quando saí. – Diz Lena, pegando o cadeado aberto, com a sobrancelha erguida. – Será que Ana Rosa deixou assim?
- Que estranho. Eu posso jurar que acabei de vê-la indo pra trás da casa com um cara. - Disse Violeta, desconfiada.
- Deve ser algum motoqueiro. – Sorri Lena, com ar malicioso. – Ele estava de jaqueta de couro e capacete?
– Não deu pra ver. Já está muito escuro.
As duas deram de ombros e entraram, e Lena trancou e checou o cadeado do portão.

***

- Quem está aí? – O Sr. Cardoso grunhiu quando a porta bateu, erguendo o pescoço e arrumando os oculozinhos no rosto enrugado.
Estava sentado na poltrona, pra variar, diante da TV ligada em uma das novelas que ele jurava que nunca assistia.
- Somos nós. – Diz Violeta, enquanto ela e Lena atravessavam a saleta. – O senhor precisa de alguma coisa?
O Sr. Cardoso vasculhou os bolsos da camisa branca.
- Meu remédio – disse, visivelmente chateado. – Ainda bem que você perguntou. Esqueci meu remédio no quarto de novo.
As meninas fingiram tossir para disfarçar o riso.
Adoravam o velho e suas manias esquecidas.
- Eu vou buscar pro senhor. – Diz Lena, já subindo as escadas para o segundo andar.
Violeta se sentou na outra poltrona, largando a bolsa no chão. Ia perguntar se podia mudar de canal, mas então escutou a porta da cozinha bater.
Ana Rosa.
Disparou para lá, tentando fingir que não queria nada.
Viu a mulher atarefada, cortando cenouras na pia.
- Oi, tia. – Disse, sentando-se no balcão na cozinha. – Quer ajuda?
- Não é necessário. – Disse Ana Rosa, sem ao menos olhar para ela. – E já disse pra não me chamarem de tia. Trancaram o portão?
- Lena trancou quando chegamos. – Respondeu Violeta. Fez uma pausa antes de perguntar. – Quem é o novo hóspede?
Ana Rosa largou a cenoura e se voltou para ela, acenando com a faca para Violeta enquanto falava.
- Ora, moça. Não é da sua conta. – Disse, visivelmente aborrecida. – Já aviso que deve ficar na sua. O rapaz não vai ficar por muito tempo.
Violeta segurou o sorriso.
Que mulher extraordinária...
- Então é um rapaz? Ele é bonito?
- Não. – Disse Ana Rosa, brusca, voltando para as cenouras.
- Porque ele ficou no quartinho lá fora, e não em um dos quartos lá de cima?
- Cuide da sua vida, Violeta. – Bronqueia Ana Rosa, revirando os olhos. – Se quer ajudar, pegue a televisão pequena, do quarto 2, lençóis, fronhas e um cobertor e leve para o quartinho. Não demore. Vá depressa. E não fale com ele. Coloque tudo no chão perto da porta, bata e volte correndo. Se me desobedecer, vou picar os seus dedos e sua língua, do jeito que estou fazendo com essas cenouras.
Violeta riu do discurso da tia, e subiu para pegar as coisas.
Passou por Lena no meio do caminho, que vinha do quarto do Sr. Cardoso e trazia nos braços pelo menos uma dúzia de frascos de remédio..
- Eu não sabia qual deles era. – Explicou Lena.
- Guarde uma pílula de cada pra mim. – Pede Violeta. – Dois do que servir para dor-de-cabeça. Vou desobedecer Ana Rosa.

***

Lucas estava deitado na cama estreita, olhando para o teto.
Não havia nem tirado os sapatos.
Estava em um daqueles momentos de mil pensamentos e nenhuma ação.
Então alguém bateu na porta.
- Quem é? – Perguntou, sem se mexer.
Oh, vida cruel...
- Ana Rosa me mandou trazer a roupa de cama e a TV. – disse uma voz feminina do outro lado da porta.
Lucas pensou em se levantar, mas seu corpo não quis obedecer.
- Obrigado. – Disse, fechando os olhos. – Mas não posso atender agora.
- Ok. – Disse a voz, dessa vez ligeiramente aborrecida. – Vou deixar tudo aqui na porta.
- Valeu. – Respondeu Lucas, virando-se na cama e enterrando o rosto no colchão.
Quero sumir para sempre...

***

- Lena? Ainda está acordada? – Perguntou Violeta, deitada na cama, para o quarto escuro.
As duas dividiam o sótão, um enorme quarto no “topo” da Pensão.
- Agora tô. Porque? – Perguntou Lena, com a voz um pouco sonolenta.
- Eu só estava pensando... Estou muito encrencada por ter ameaçado arruinar a vida da Briana?
- Não. Mas vai estar se Ana Rosa descobrir. E é melhor rezar a todos os deuses pra Briana não morrer queimada em uma sessão de bronzeamento artificial ou algo do gênero, porque aí sim você pode sentar e esperar aldeões com tochas e forcados cercarem a Pesão.
Violeta ri.
- Eu não tenho essa sorte.
As duas ficaram em silêncio por mais alguns minutos.
Violeta se remexeu na cama.
Lena deu um suspiro impaciente e ascendeu um abajur.
- O que foi, Violeta? Eu sei que não era isso que você queria me perguntar.
Violeta se senta na cama. Era inútil tentar mentir pra Lena.
- Certo. Eu acho que o Fernando sabe.
- Sabe nada. Ele não tem como saber. Não de verdade. Chame logo esse cara para um cinema e deem uns beijos. Vai fazer bem pra vocês.
- Mas...
- Boa noite, Violeta.
Lena apagou a luz, e Violeta voltou a se deitar.
Sabia que, no fundo, Lena estava apenas com medo.
Com medo de que alguém pudesse mesmo descobrir quem elas realmente eram.

***

No dia seguinte, Ana Rosa esperou que as meninas saíssem para o colégio e se dirigiu até o quartinho nos fundos da propriedade.
Bateu na porta. Duas vezes.
Um pouco de barulho, e Lucas a abriu.
Ana Rosa ergueu uma sobrancelha, analisando o garoto.
Descabelado. As mesmas roupas amarrotadas da véspera. Olhos inchados. Um cigarro acesso na mão. E uma música estranha, muito estranha, tocando dentro do quarto.
- Pelos céus... O que você está escutando aí, guri?
Ele bocejou antes de responder.
- Sympathy For The Devil – respondeu ele, com voz de sono. – É o cover do Guns n’ Roses.
- Que seja – diz Ana Rosa, com uma espécie de desprezo na voz. – Escute o que quiser, contanto que o som não chegue até a minha casa. Pensei bastante e resolvi te ajudar com seu problema. Mas haverá algumas condições.
- Serei responsável. – Respondeu Lucas, mais do que depressa. – Prometo.
- Não é só isso – diz Ana Rosa, ajeitando os óculos no rosto. – Pra começar, já aviso que você deve manter distância das minhas sobrinhas, que moram comigo na Pensão. Elas são meninas ainda muito jovens, e estou cuidando delas. Então, se chegar perto de uma delas, não vou pensar duas vezes antes de cortar seu pintinho com minha tesoura de jardinagem.
Lucas engasgou.
- Recado entendido.
- Não me leve à mal, sou um pouco super protetora. – Continua Ana Rosa, com um sorriso doce. – Voltando ao assunto: você já sabe o que deve fazer naqueles dias especiais do calendário, não é? Ótimo. Então, minha última condição para que você permaneça aqui é que vá ao colégio.
- Como?! – Lucas arregalou os olhos.
Ir a escola... Como um cara normal? Era isso mesmo? Professores, livros e estudos no meio de tudo aquilo?
- Não pode estar falando sério... – Lucas ainda a olhava, petrificado.
- Falo muito sério, sim senhor. Amanhã... Depois de amanhã, no máximo, você irá ao colégio. Enquanto estiver sob o meu teto, não será um ignorante sem instrução. A educação é muito importante para um adolescente da sua idade, e não há desculpa. As aulas são no período matinal, guri.
- A senhora nem sabe a minha idade...
- Não pode ter mais do que dezesseis.
- Quinze.
- Viu? Menos de dezesseis. Vai ao colégio se quiser continuar aqui.
Lucas revirou os olhos.
Ana Rosa cruzou os braços.
- E não revire os olhos para mim, Lucas Matarazzo! Se o Samuel estivesse aqui, ele iria lhe dar umas bofetadas bem merecidas... Está sendo mal agradecido.
O garoto suspirou.
- Me desculpe. Irei me comportar e fazer tudo o que a senhora mandar. E... Obrigado.
Ana Rosa assentiu, em tom presunçoso, mascando um chiclete.
- De nada, guri. E agora vá escovar os dentes, por uma roupa limpa e lavar o rosto. Tem chuveiro no banheiro desse quarto, sabia? E penteie esse cabelo, pelo amor de Deus... Quer que eu o corte para você?
Lucas recuou um passo.
- Não, valeu.
- Mas está caindo no olho, rapazote!
- É pra ficar assim. – Disse Lucas, um pouco constrangido. – Faz parte... Do meu estilo.
Ana Rosa deu de ombros.
- Que seja...  Agora vá se lavar e depois vá à cozinha da Pensão, tome um bom café. E então me encontre no jardim para me ajudar. Não vai ficar à toa enquanto estiver sob o meu teto. Cabeça vazia é a oficina do Diabo, eu sempre digo.
Ana Rosa lhe deu as costas sem esperar por uma resposta, colocando um enorme chapéu de jardinagem sobre a cabeleira alaranjada.
Lucas a observou se afastar, sentindo uma pontinha de otimismo.
- Que mulher extraordinária... – Murmurou para si mesmo.

CONTINUA


Comentários

  1. Adoro a Ana Rosa, hahaha, a personalidade dela é tão.... Sei lá, fácil de gostar, pelo menos pra mim, hahaha. E o Lucas é um doce!!! Quero que a Violetta fique com ele! Vai ficar ne?!

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  2. Fã nº1 da Ana Rosa aqui <3 Hahaha
    Ficadas sempre rolam, né... XD

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